segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mais médicos, menos jornalistas

Essa polêmica dos médicos está erigida sobre uma obviedade tão evidente (a esta altura não serei mais um a banalizar o velho "ululante" de Nelsão), que dispensa até maiores reflexões, textos, palpites. Parece o tipo do assunto diante do qual é mais inteligente reduzir tudo à sua essência do que ficar inflando controvérsia onde não existe. Ou não deveria existir, caso não houvesse, agora sim, uma doença chamada desonestidade intelectual.

Assim: 1) faltam médicos na rede pública e isso é gritante, sobretudo no interior, especialmente onde a medicina tem uma função mais geral do que nas cada vez mais sofisticadas tecnoclínicas que excitam os superpoderes da categoria nas metrópoles; 2) falta estrutura de trabalho para os médicos, yes, sobretudo nos mesmíssimos lugares descritos no item anterior, o que rende uma bela desculpa para os profissionais que não sentem o menor apelo para dar as costas ao ultra-qualquer coisa que cospe exames a preço de ouro e encarar a carência até de papel higiênico no postinho público do grotão.

Dito isso, sacramentado o que todo mundo está cansado de saber, espanadas as hipocrisias de ambos os lados - doutores e governos - temos então o programa Mais Médicos produzindo histerias ideológicas em conselhos e aeroportos. Temos mais: uma outra categoria profissional cuja função social é mediar as complicadas relações entre classes, profissões, instâncias e demandas. Nós, os jornalistas - que nos encontramos metidos até o pescoço na tal "polêmica", mesmo sem usar jaleco ou sem nunca termos ido a Cuba, a não ser para férias em Varadero e similares, claro.

Na edição desse domingo do Correio Braziliense, jornalistas escrevem, numa reportagem de título auto-explicativo ("O apelo eleitoral do Mais Médicos"): "A avaliação é de que críticas, neste momento, podem não ser compreendidas pela população que sofre com a falta de médicos no país". Eu, leitor, ex-redator deste mesmíssimo jornal, me atrevo a substituir palavras (e lembro de Rubem Alves, que diz que pensar é brincar com as palavras, essa só aparente inutilidade): "A avaliação é de que críticas ÀS ENTIDADES MÉDICAS, neste momento, podem não ser compreendidas pelos JORNALISTAS que NÃO sofrem com a falta de médicos no país."

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