quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Nas redes da burocracia



A burocracia da Justiça Eleitoral tem sido o maior cabo eleitoral de Marina Silva. Se depender de seus carimbos viciados na velha política, cedo ou tarde todos vamos cair de simpatias pela candidata ex-petista, verde-alternativa e evagélico-sem-ranço. Explico: tenho mais de uma ressalva à maneira como Marina se comporta politicamente desde que deixou o PT à sombra de um explícito ressentimento causado pela opção do partido em priorizar um projeto de distribuição de renda associado ao crescimento econômico do país. Considero a crítica pura de Marina relevante - e estou ciente de que tais ressalvas não partem apenas dela, mas também de figuras como Leonardo Boff, dono das melhores referências quando se trata de analisar a realidade do país e de toda gente. Discordo dos métodos; da defecção e da denúncia que a mim soa fácil; do oposicionismo conveniente. Considero que, dentro do PT - e relevado o inconformismo pessoal decorrente de uma já distante disputa entre ministros de Lula, com ela de um lado e Dilma Houssef de outro - Marina teria mais a acrescentar, legitimidade maior para travar a luta interna tão necessária a que um partido outrora pequeno se mantenha fiel à sua essência uma vez alcançado o poder. 

Esse preâmbulo todo é necessário para situar o real adversário da hora, seja de Marina, do PT, da continuidade desse projeto de país (contestações e avaliações à parte), até mesmo dos outros concorrentes como Aécio e Eduardo Campos: quem está do outro lado do balcão, porque se trata de um balcão tanto literal quanto metafórico, é a Justiça Eleitoral. Numa sentença: os obstáculos burocráticos que a Justiça Eleitoral tem criado para a criação do partido de Marina são ilegítimos diante da demanda social que existe, de fato, para a criação da legenda. Você pode, assim como eu, discordar dos gestos de Marina, torcer a cara para a candidatura dela, achar como muitos que o aspecto de chororô da candidata não é muito alvissareiro, que evidentemente o conteúdo "sonhático" de suas postulações encontra forte obstáculo na real política do país etc etc etc; mas você precisa concordar comigo - que não pretendo votar em Marina para presidente; mas tampouco me encontro em grau de empolgação diante de Dilma - quanto ao fato de que a Justiça Eleitoral está sendo mais rigorosa com ela do que a nova política no horizonte do país admite. Ou tanto quanto compraz, em derradeira instância, àquela mesma real política em processo de vencimento. 

Para algum lugar há de escorrer a energia cidadã que busca se expressar por meio do partido de Marina Silva. Não adianta o instrumento burocrático de uma conferência de assinaturas se interpor. Não lembro de ter visto - prazos e demais figuras à parte - tal rigor quando Kassab foi criar um PSD que, diante de qualquer olhar desprevenido, não encontra um mínimo de demanda social quando comparado à Rede da ex-senadora do Acre. Kassab e PSD fizeram tudo conforme manda o manual, mas que o deus da boa política nos livre de um partido que normativamente está em dia com a papelada mas socialmente se encontra distante da mais elementar noção de cidadania e representatividade.   

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