sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

CHAU, ELBA

 


 A maioria das pessoas envelhece mal, bem mal.

Esse seria só mais um motivo pra eu insistir em seguir de bem com minha Elba Ramalho antitudo, marginália, passa-fome no Sul Maravilha, vestidinho de renda deixando ver tudo, cabelão crespo que cobria sem deixar um espacinho que fosse a gigante capa dupla do LP Capim do Vale.

Torço o olhar pras declarações cuspidas pela Elba pos-lip, pós-sucesso, pós-fracasso, pós-tudo o que não presta e fico com a Elba que cantava Luis Ramalho, bradando em linda voz gasguita que “o lugar também clareia a lama”. Com a Elba luxuosamente vestida em trapos que varriam a poeira do sertão nas cenas da Morte e Vida Severina refeita na tela da Vênus Platinada.

Com a Elba que infelizmente não vi em pessoa no teatro se rasgando com Marieta na montagem da Ópera do Malandro, mas que ouvi até escavar sulcos no vinil da trilha sonora gravada.

Com a Elba de quem se dizia que escandalizava de Brejo do Cruz a Caicó, a Elba-açude de mulher que fez transbordar para todo o país as águas do Bodocongó. A Elba cujas pernas sustentavam o show business nordestino-brazuca levando aquela alegria composta pelo então anônimo Lenine – outro que já foi melhor – pelos palcos-caminhões da suburbanidade sertaneja bye bye made in Brasil com que nem o cinema de Cacá poderia sonhar.

Fico com a Elba lírica, capaz de tirar do chão não só os pés mas a alma desprevenida do ouvinte daquele radinho pré-FM apenas cantando sete cantigas pra voar – de autoria, por sinal, de outro que envelheceu mal neste catálogo de gente que já prestou, e como prestou, e como é triste que tenha prestado tanto e tanto não preste mais.

Tão triste que só a música pretérita mesmo pode fazer esquecer, apagar, deixar pra lá. Fico com aquela Elba e tudo que poderia querer é que ela tivesse ficado com a gente, na banda insanamente sã de cá. Não deu, chau, amor. Já vou me embora, não chora, a hora é de deixar.