quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ode a Andressa



Andressa Mendonça é linda, cara, arrogante e suja. Mas o que mais dói é perceber que, espanada de suas circunstâncias eventuais como todo o escândalo em que se meteu com o maridão da hora, o Cachoeira, ela é quase a composição perfeita do ideal de aparência e comportamento em vigor entre certa parte do mulheril atual. Andressa parece um genérico de todas as meninas recém-formadas nos mil e um cursos de Direito em vigor nas faculdades do país. Lembra um avatar das milhares de neoburguesas que consomem o que podem e o que não podem nas lojas de grifes das dasluzes autênticas ou copiadas desta mesmíssima nação. Evoca a neomiss Brasil, a garota de aparente bom-tom e bom gosto – aquela que jamais vai citar qualquer coisa menos ofensiva do que o “Pequeno Príncipe” quando se pergunta qual o seu livro de cabeceira. Andressa Mendonça, pois sim, não está sozinha – e aí é que reside a sua, digo, a nossa, danação coletiva.

Diante de Andressa Mendonça, esteja ela usando pulseiras que custam muito mais do que o rim imprestável do crack man da primeira esquina ou personalíssimas algemas de prata encomendadas a um desingner da PF, a tentação imediata é sair por aí em busca de algo o mais natural possível. Um belo exemplar de moça bicho grilo, por exemplo – o que não vai ser nada fácil. Em frente às fotos de Andressa na banca de jornais, o cérebro busca automaticamente uma compensação naqueles tempos em que mulher bonita tinha alguma coisa a ver com transgressão. Você vê Andressa e pensa em Leila Diniz, é inevitável.

Confrontado com a maneira doce e meiga com que Andressa tenta chantagear um juiz federal – e, ao fim das contas, o faz, mesmo depois de denunciada, como o leitor pode conferir agora mesmo no site da revista (argh) Veja – não há com não sentir saudade dos tempos em que o cúmulo do atrevimento em termos de mulher e comportamento era uma grávida pop star brazuca ir à praia de biquíni. Ou soltar uns palavrões, também. Agora tente o amigo imaginar essa bonequinha de luxo abrasileirada que é Andressa deixando escapar um termo de baixo calão de sua boquinha desejável. Definitivamente, para mulheres como Andressa, desacato à autoridade – ou a quem quer que seja, como o povo brasileiro, a quem ela julga que Cachoeira não causou  mal algum – é algo que se pratica com classe. A mesma classe que explica o fato dessa mulherada que a tem como espelho involuntário andar por aí com bolsas de 5 mil reais a unidade: nada mais proporcional a quem pode, a qualquer momento, precisar dispor de 100 mil pra pagar uma fiança que a permita sair da delegacia para entrar na loja mais próxima e mais cara. Volta, Leila!

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