Um clima que vai de tenso a sombrio antecede o jogo da Seleção Brasileira desta sexta-feira. Na internet – este médico/monstro que parece nunca ser capaz de mostrar os extremos que é capaz de alcançar – um rastilho de pólvora parece chiar cuspindo fragilidades pra todo lado. Cobranças, ressentimentos, contabilidade de erros, levantamento de danos. Tem pra todos, Luiz Felipe, o jogador-capitão – que chorando daquela maneira de fato não sugere a estatura esperada da função –, o neofenômeno Neymar, a psicóloga, o assessor de imprensa, se brincar vai sobrar até pro motorista daquele ônibus lustroso que naturalmente atrai olhares por onde passa.
Parece que
com o fracasso-do-fracasso do esperado “imagina na Copa” e com a política em
banho Maria até a segunda quinzena de julho, a algaravia feroz que as redes
sociais pescam e embalam pra revenda explodiu de vez na expectativa
antecipadamente derrotada pelo jogo desta sexta. Enfim, motivos e fatos à
parte, entregamo-nos todos à irracionalidade. E nela chafurdamos, lambuzados de
desprezo pelo ídolo que mal acabamos de entronizar. Antes do início dos jogos e
durante a primeira fase deles, permaneci alguns dias distante da internet e por
instantes o mundo inteiro – incluindo o circo do campeonato de futebol – jamais
me pareceu tão normal, tranquilo, dinâmico e ritmado na sua falta de
aporrinhações fabricadas, que só podem tornar ainda mais insuportáveis aquelas
que existem de fato. Bastou um clique, voltar à rede e descobrir que, enquanto
eu vivia em paz, que nada – o mundo estava se acabando, e o Brasil em
particular à beira da catástrofe.
Pronto: dois
ou três sites foram suficientes para demolir uma pequena, insignificante,
silenciosa e agora ridícula desconfiança que assaltava minha calma sem oferecer
maiores riscos. Desconfiava singelamente que os garotos inexperientes desta
geração verde-amarela profissionalizada à europeia teria nesta Copa o seu
momento. Que via neles, independente desse negócio em que de fato o futebol se
transformou – e esta é outra discussão – e em meio aos percalços – que,
lembremos, são parte indispensável de qualquer percurso – um novo grupo de
predestinados, exatamente como foi a Seleção de 94.
Amanhã,
sexta-feira, aí pelas sete da noite, a julgar pela fúria opinativa e pela
depressão bacaninha que marcam hoje (sempre?) a bagunça da internet, estarei
desmentido e desmoralizado. Humilhado como um dia foi o técnico Dunga, figura que
me veio à memória muito apropriadamente no meio dessa inútil preleção. Hoje,
Luiz Felipe, Parreira & Cia estão provando do mesmo fel que foi derramado garganta
abaixo do turrão da outra Copa. É triste notar que esse rancor embolorado de
tão extemporâneo sobrevive impresso em bits nas nossas novas telas. E que a derrota
anunciada de amanhã só irá reforça-lo. No esporte como na política, tem horas
em que a bola e o voto são o que menos importa. Quem vender a melhor opinião –
diria pior, pra ser mais fiel ao momento – é, se não o campeão do mundo, o
vencedor mal coroado da discussão. E contra isso não há o que se fazer, a não
ser votar com ponderação e não perder nos pênaltis.
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