Viva a Liberdade, o filme, chega a ser brilhante no
prodígio da situação que constrói e nos resultados que tira dela.
Na tela, um
líder político correto e ponderado que não empolga é substituído em momento de
crise pelo irmão gêmeo tão provocador quanto irresponsável - e divertido, é lógico.
Pena que os
resultados, na tela – na vida? – não ultrapassem a barreira da verbalidade.
O filme é
por isso mesmo um manual de novas
citações para a velha crise política de meio mundo: “O medo é a música da
democracia”, a mais impactante, é apenas um dos acordes dessa trilha sonora.
A tela reluz
em momentos assim, quando o tresloucado irmão gêmeo em pane psiquiátrica “do
bem” formula com simplicidade nem um pouco política o impronunciável. Direto ao
ponto, pois que sem amarra alguma – leia-se, consequências complicadas de serem
resolvidas fora de um filme. Para isso serve o cinema, a literatura e outros
irmãos da mesma família.
Mas como
assistir a isso sem lembrar o comediante que virou azarão na última grande
eleição italiana – ou será espanhola, que o borrão dos impasses políticos e
econômicos da zona do euro amarrota tudo como se fora um papel amassado?
Como não
lembrar de uma outra figura do mundo real – Dario Fo, que em esquete semelhante
escapou da dramaturgia e foi parar nos ringues da política italiana?
Não tem
também como não pensar numa outra líder, de um país distante, em momento de
ataques de popularidade: e se uma gêmea da Dilma, mais serelepe e sorridente,
fosse posta para representá-la em campanha, enquanto a autêntica toma uns sais
num spa recomendado por Michel Temer?
Hum, não...
pensando bem, se há algo que a Dilma de verdade já contém é essa falta de
freios em, aqui e ali (poderia ser mais frequente, não?), disparar aquela frase
entre mal educada e certeira, desconcertando a hipocrisia que a cerca.
Lembro
apenas de uma: “Sou uma mulher cercada de cavalheiros”, cujas palavras exatas obviamente
não são essas que empreguei mas cujo sentido caminha na mesma direção. Para
exatidões, basta um clique no Google.
O filme,
portanto, no Brasil ou na Itália, não é apenas um filme. Mas tem a seu favor as
facilidades da criação.
Pior para os
europeus, que nem com uma fictícia figura dessas – o irmão gêmeo idêntico na
forma e surreal na performance – podem contar.
Também é uma
pena que, brilhantismo verbal à parte, da metade para o final a parábola
cinematográfica não se sustente tanto. Repare mesmo como o impacto vai embora
justo na cena que deveria ser seu auge: aquele discurso que, se por descuido
fosse parar numa fita americana, já estaria sendo chamada de “cena do Oscar” –
e com razão.
Mas o que já
se viu já valeu, tamanho o poder da provocação política que este Viva a liberdade constrói.
(E atenção
para o diálogo que o desembestado falso líder tem com um apressado jornalista.
Serve para bem além das folhas e dos telejornais italianos.)
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