segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

À SOMBRA DOS METEOROS



Parece que um meteoro caiu na Terra enquanto eu estava de férias. Ou teriam sido dois? Quando a gente volta pra casa depois de uma viagem, ou de uma série delas como é o caso agora, parece que foi tomado por uma espécie medicinal de amnésia social que nos deixa à parte de todos os acontecimentos transcorridos, sejam grandes, pequenos, verdadeiros ou inventados, promovidos ou fantasiados.

O fato é que, em termos astronômicos, o meteoro russo (não confundir com Tostói ou Putim) passou praticamente do meu lado enquanto eu me distraía com as piscinas naturais da Praia do Futuro e nem me dei conta. Outro astro parecido, que acabou de entrar para o sistema solar da política nativa, também quase cai na minha cabeça: um tal de “Rede”. Mas, qual nada, flanando pelo calorão de Fortaleza, a palavra “Rede” pra mim não soaria como mais do que aquele artigo para dormir à moda indígena que está à venda em nove entre dez barraquinhas de praia.

Não que as férias me transformem num autêntico marciano em temporada no planetinha das expiações infindas: até eu, no enfado matinal do meu quarto de hotel, estou sujeito a ligar a televisão na Globo News e ser informado da última catástrofe ocorrida no astro que habitamos – e, mais uma vez, é curioso como meu sexto sentido sempre liga na GNews em dias de catástrofes matinais. Ratzinger jogou a toalha e deixou meio mundo de mitra caída.

De uma hora pra outra, estando de férias ou no trabalho, viramos todos cardeais tanto quanto nos tornamos técnicos de seleção em véspera de Copa do Mundo. Volto pra casa e devoro a edição dominical do jornal “O Globo”, onde fico a par de tudo, inclusive da nova celebridade do mundo dos conflitos mundiais: Tarcísio Bertone. Tarcisão é o novo Ravengar do pedaço, o Zé Dirceu do Vaticano, o PC Farias de Roma, o Renan da Cúria. Ele é assim-assim com Ratzinger, mas foi quem botou Jeseph nessa enrascada, se eu entendi direito. O Globo foi muito mais claro – ocupou-se em explicar a farofa política do Vaticano; enquanto a “Veja” – que outrora era uma ótima fonte de esclarecimento em casos assim – esforçou-se tanto por comentar, à sua maneira, o acontecido, que tornou tudo muito mais confuso.  Reza uma verdadeira missa pra Bentinho, só faltou canonizar o cara – seu milagre justificatório à santidade seria a coragem da renúncia – mas se contradiz toda ao ter que afirmar sobre a ligação dele com Tarcisão. O conservadorismo não precisa de tamanha curva para conquistar seus adeptos, ou reforçar os que já tem, como deve ser mais o caso da “Veja” atual e seus leitores derradeiros. Melhor ser sincero, mas há tempos, reconheço, honestidade intelectual não faz a cabeça de ninguém.

Agora você imagine essas torções textuais quando se trata de matéria muito mais sensível como é o caso do  caso Yoani Sánchez. Acho que em algum momento eu falei, lá nos primórdios deste texto, sobre notícias verdadeiras ou não, inventadas ou fantasiadas. É por aí. Entre Ratzinger e Yoani canonizados, sou mais Bentinho explodindo de ciúmes por Capitu: em termos de fantasia, o noticiário de Machado é muito mais real.

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