terça-feira, 11 de dezembro de 2012

TODOS QUEREM MEU VOTO (1)





Nunca antes na história deste país tantos quiseram com tanta antecedência o meu, o seu, o nosso voto para ser presidente da República. De uma hora pra outra, mal se encerrou a eleição  municipal, apresentou-se uma turba barulhenta de candidatos mal assumidos mas bem sassaricados querendo ser o nosso favorito pra 2014. Todos querem mandar no Brasil; nenhum quer ser mandado pelo país. O único que se curva a este último e vital quesito está na dele, apanhando como sempre, seja ou não candidato. Tomara que seja – é só o que está faltando, no melhor sentido da expressão.



Dilma quer meu voto, mas para tê-lo com algum entusiasmo de minha parte precisa rever urgentemente seu political way of life. Menos Jorge Gerdau e mais política pública, por favor. Precisa deixar um pouco de lado essa falácia de competência técnica e gerencial – com que, por exemplo, os tucanos da era FHC nos engabelaram só enquanto puderam, antes de entregar um país falido ao sucessor do PT – e se concentrar nas demandas do Brasil Popular Brasileiro. Quando, há poucos dias, um grupo de agricultores do Nordeste, falidos pelas dívidas com o BNB e pela seca que atinge a região, fizeram um piquete em frente ao Palácio do Planalto o governo primeiro chamou a polícia e só depois recebeu uma comissão. E isso porque ainda reside no Palácio do Planalto um rescaldo da era Lula chamado Gilberto Carvalho – que sem ele, sei não. Mas precisava, candidata Dilma, chamar a polícia pra impressionar aquela gente tão brasileira que é  o nosso pequeno agricultor familiar? Tudo bem que eles fecharam uma via importante de Brasília: mas várias delas não são fechadas quanto há encontro de chefes de Estado e a cidade não sobrevive do mesmo jeito? Grandes ruralistas autoritariamente inadimplentes certa vez encheram o trânsito da capital de máquinas e tratares e não foram incomodados. E mais: se empresários calibrados têm dificuldade para conseguir uma audiência com a presidenta, se líderes políticos reconhecidos raramente conseguem, o que resta a um punhado de agricultores familiares falidos para chamar atenção de um governo que veio de outro onde eles tinham  visibilidade do que fechar o Eixo Monumental no seu ponto mais filmado, vigiado e ambicionado?  Fosse ainda ocupante do endereço aquele de quem se falou no final do primeiro parágrafo, teria o presidente talvez interrompido uma cerimônia e descido ao encontro dos seus iguais brasileiros lá embaixo no asfalto quente do dezembro  brasiliense. Dilma tem suas fixações em energia, grandes obras, planejamentos estratégicos e cobranças diárias, mas sem afinação com as demandas comunitárias da pequena população cá embaixo não terá meu voto entusiasmado não.



Aécio quer meu voto: acabou de ser lançado na disputa, meio na base do empurrão dado por um FHC que, por pouco, nisso de chacoalhar o que está quieto, não cruza a linha da deselegância – logo ele. Dizem que o problema de Aécio é ser desconhecido em qualquer parte do país que não seja Minas. Também não é assim: Aécio é do time de Dudu (o dono da próxima postagem, o número 2 desta série, aguardem) ; daquele pessoal que acha que merece a presidência da República por questões de pura genealogia. Caberia a nós, eleitores cá de baixo, apenas protocolar o que o destino  meio familiar e meio histórico do clã determinou. Neto de Tancredo, é minimamente conhecido pela geração que entrou  na juventude no final da ditadura. Aqui no meu canto, acho que Aécio tem sim um problema de desconhecimento: mas não em relação a ele e sim a Minas sob ele. Pouco se diz, pouco se noticia, quase nada se sabe sobre o governo de Aécio em Minas. Dessa perspectiva, Minas parece assim uma Albânia Tucana de onde nenhuma informação relevante sai. Sabemos de cor e salteado as mazelas de São Paulo, seus PCCs, seus secretários enriquecidos pelas licenças de construção, seu sistema de transporte travado etc etc etc. Também somos especialistas sobre o Rio de Janeiro, sua mistura de paisagem paradisíaca com indústria cultural latejante e o eterno embate entre morro e asfalto, zona sul e baixada, com os crimes que de tempos em tempos ocupam as manchetes. Sabemos ainda bastante sobre as máfias do Espírito  Santo, um estado menor mas ainda assim estrelado no mapa da região Sudeste. E de Minas, o que sabemos? Nada vaza de lá. Onde está a imprensa mineira, quem a controla, por que ela não consegue eco no restante do Brasil? Que noticiário é este que não se realiza nem se propaga? Questões programáticas relacionadas ao ideário liberal-aloprado dos tucanos me impedem por princípio de entregar meu voto a Aécio, mas este silêncio informativo que apenas parece secundário termina por cimentar minhas negativas diante do candidato do empurrão.

(continua no próximo post)

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