Nunca antes
na história deste país tantos quiseram com tanta antecedência o meu, o seu, o
nosso voto para ser presidente da República. De uma hora pra outra, mal se
encerrou a eleição municipal,
apresentou-se uma turba barulhenta de candidatos mal assumidos mas bem
sassaricados querendo ser o nosso favorito pra 2014. Todos querem mandar no
Brasil; nenhum quer ser mandado pelo país. O único que se curva a este último e
vital quesito está na dele, apanhando como sempre, seja ou não candidato.
Tomara que seja – é só o que está faltando, no melhor sentido da expressão.
Dilma quer
meu voto, mas para tê-lo com algum entusiasmo de minha parte precisa rever urgentemente
seu political way of life. Menos Jorge Gerdau e mais política pública, por
favor. Precisa deixar um pouco de lado essa falácia de competência técnica e
gerencial – com que, por exemplo, os tucanos da era FHC nos engabelaram só
enquanto puderam, antes de entregar um país falido ao sucessor do PT – e se
concentrar nas demandas do Brasil Popular Brasileiro. Quando, há poucos dias,
um grupo de agricultores do Nordeste, falidos pelas dívidas com o BNB e pela
seca que atinge a região, fizeram um piquete em frente ao Palácio do Planalto o
governo primeiro chamou a polícia e só depois recebeu uma comissão. E isso
porque ainda reside no Palácio do Planalto um rescaldo da era Lula chamado
Gilberto Carvalho – que sem ele, sei não. Mas precisava, candidata Dilma,
chamar a polícia pra impressionar aquela gente tão brasileira que é o nosso pequeno agricultor familiar? Tudo bem
que eles fecharam uma via importante de Brasília: mas várias delas não são
fechadas quanto há encontro de chefes de Estado e a cidade não sobrevive do
mesmo jeito? Grandes ruralistas autoritariamente inadimplentes certa vez
encheram o trânsito da capital de máquinas e tratares e não foram incomodados. E
mais: se empresários calibrados têm dificuldade para conseguir uma audiência
com a presidenta, se líderes políticos reconhecidos raramente conseguem, o que
resta a um punhado de agricultores familiares falidos para chamar atenção de um
governo que veio de outro onde eles tinham
visibilidade do que fechar o Eixo Monumental no seu ponto mais filmado,
vigiado e ambicionado? Fosse ainda
ocupante do endereço aquele de quem se falou no final do primeiro parágrafo,
teria o presidente talvez interrompido uma cerimônia e descido ao encontro dos
seus iguais brasileiros lá embaixo no asfalto quente do dezembro brasiliense. Dilma tem suas fixações em
energia, grandes obras, planejamentos estratégicos e cobranças diárias, mas sem
afinação com as demandas comunitárias da pequena população cá embaixo não terá
meu voto entusiasmado não.
Aécio quer
meu voto: acabou de ser lançado na disputa, meio na base do empurrão dado por
um FHC que, por pouco, nisso de chacoalhar o que está quieto, não cruza a linha
da deselegância – logo ele. Dizem que o problema de Aécio é ser desconhecido em
qualquer parte do país que não seja Minas. Também não é assim: Aécio é do time
de Dudu (o dono da próxima postagem, o número 2 desta série, aguardem) ;
daquele pessoal que acha que merece a presidência da República por questões de
pura genealogia. Caberia a nós, eleitores cá de baixo, apenas protocolar o que
o destino meio familiar e meio histórico
do clã determinou. Neto de Tancredo, é minimamente conhecido pela geração que
entrou na juventude no final da
ditadura. Aqui no meu canto, acho que Aécio tem sim um problema de
desconhecimento: mas não em relação a ele e sim a Minas sob ele. Pouco se diz,
pouco se noticia, quase nada se sabe sobre o governo de Aécio em Minas. Dessa
perspectiva, Minas parece assim uma Albânia Tucana de onde nenhuma informação
relevante sai. Sabemos de cor e salteado as mazelas de São Paulo, seus PCCs,
seus secretários enriquecidos pelas licenças de construção, seu sistema de
transporte travado etc etc etc. Também somos especialistas sobre o Rio de
Janeiro, sua mistura de paisagem paradisíaca com indústria cultural latejante e
o eterno embate entre morro e asfalto, zona sul e baixada, com os crimes que de
tempos em tempos ocupam as manchetes. Sabemos ainda bastante sobre as máfias do
Espírito Santo, um estado menor mas
ainda assim estrelado no mapa da região Sudeste. E de Minas, o que sabemos?
Nada vaza de lá. Onde está a imprensa mineira, quem a controla, por que ela não
consegue eco no restante do Brasil? Que noticiário é este que não se realiza
nem se propaga? Questões programáticas relacionadas ao ideário liberal-aloprado
dos tucanos me impedem por princípio de entregar meu voto a Aécio, mas este
silêncio informativo que apenas parece secundário termina por cimentar minhas
negativas diante do candidato do empurrão.
(continua no próximo post)
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