Com os pés
bem firmes no chão do Conjunto Cultural da República, muita gente voou por
sobre a Terra. Esse foi o efeito proporcionado pela exposição “A Terra vista do
céu”, com as fotos do francês Yann Arthus-Bertrand encavaladas em tamanho
ampliado, numa autêntica fila de imagens boiando sobre o pátio de concreto que
serve de base ao museu e à biblioteca no centrão de Brasília. São imagens
captadas do alto de helicópteros, aviões e – aqui a artimanha mais poética –
balões. Panoramas que mostram o chão que pisamos, seja o Rio de Janeiro, um
deserto chileno ou uma aldeia no Chade, de uma maneira incomum, sob um ponto de
vista às vezes desconcertante, a partir de um olhar quase sempre inesperado.
Basta dizer que esse chão, muitas vezes, mostram as fotos, pode não passar de
água.
Mas o
atrativo não vem apenas pelo fato de se tratar de fotografias captadas do alto –
um plano elevado bem pouco fixo, que tanto podia ser o que parecem quilômetros da
Terra, a ponto de fazer a imagem lembrar mais um mapa do que uma visão literal;
quanto descer a uma distância segura e solidária o bastante para espelhar o
encantamento mútuo entre a câmera e um olhar humano de fato aqui embaixo. Mas,
dizia-se, o fascínio da distância em altitude é um primeiro atrativo quase
irresistível, embora não esgote o interesse de quem contempla as fotos da
exposição. Quando isso acontece, o curioso dá lugar ao gregário: é quanto nos
pegamos vasculhando a paisagem em busca de algum referencial de dimensão que
nos proporcione a medida certa daquelas aparições.
Quase sempre
isso acontece quando se vê, em meio à paisagem física, uma intervenção humana –
quando não o nosso próprio semelhante nas diversas formas que ele assume
conforme a regionalidade enquadrada. E é aqui que “A Terra visto do céu” se faz
mais o planeta com que lidamos no chão do dia-a-dia: quando há gente nas
fotografias. São poucos, mas, de tão significativos, a pequenez dessa gente nas
fotos converte-se em uma estranha forma de gigantismo. Somos imensos nas fotos
de Bertrand, embora nelas apareçamos nas mais diminutas dimensões, aquelas que a
paisagem requer. Há várias leituras
possíveis para quem se posta diante dos mil e um pôsteres da mostra que passou semanas atraindo visitantes
à Esplanada dos Ministérios em Brasília. Mas entre o libelo ecológico e o
registro do quanto belo este planeta ainda pode ser em meio ao nosso desespero
ambiental mal administrado, fico com o canto antropológico que as imagens
evocam: a Terra vista do céu dá a nossa dimensão de homens, pequenos ou gigantes
conforme a estatura do olhar que dirigimos a nós mesmos.
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