quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Terra








Com os pés bem firmes no chão do Conjunto Cultural da República, muita gente voou por sobre a Terra. Esse foi o efeito proporcionado pela exposição “A Terra vista do céu”, com as fotos do francês Yann Arthus-Bertrand encavaladas em tamanho ampliado, numa autêntica fila de imagens boiando sobre o pátio de concreto que serve de base ao museu e à biblioteca no centrão de Brasília. São imagens captadas do alto de helicópteros, aviões e – aqui a artimanha mais poética – balões. Panoramas que mostram o chão que pisamos, seja o Rio de Janeiro, um deserto chileno ou uma aldeia no Chade, de uma maneira incomum, sob um ponto de vista às vezes desconcertante, a partir de um olhar quase sempre inesperado. Basta dizer que esse chão, muitas vezes, mostram as fotos, pode não passar de água.

Mas o atrativo não vem apenas pelo fato de se tratar de fotografias captadas do alto – um plano elevado bem pouco fixo, que tanto podia ser o que parecem quilômetros da Terra, a ponto de fazer a imagem lembrar mais um mapa do que uma visão literal; quanto descer a uma distância segura e solidária o bastante para espelhar o encantamento mútuo entre a câmera e um olhar humano de fato aqui embaixo. Mas, dizia-se, o fascínio da distância em altitude é um primeiro atrativo quase irresistível, embora não esgote o interesse de quem contempla as fotos da exposição. Quando isso acontece, o curioso dá lugar ao gregário: é quanto nos pegamos vasculhando a paisagem em busca de algum referencial de dimensão que nos proporcione a medida certa daquelas aparições.

Quase sempre isso acontece quando se vê, em meio à paisagem física, uma intervenção humana – quando não o nosso próprio semelhante nas diversas formas que ele assume conforme a regionalidade enquadrada. E é aqui que “A Terra visto do céu” se faz mais o planeta com que lidamos no chão do dia-a-dia: quando há gente nas fotografias. São poucos, mas, de tão significativos, a pequenez dessa gente nas fotos converte-se em uma estranha forma de gigantismo. Somos imensos nas fotos de Bertrand, embora nelas apareçamos nas mais diminutas dimensões, aquelas que a paisagem requer. Há várias  leituras possíveis para quem se posta diante dos mil e um pôsteres da  mostra que passou semanas atraindo visitantes à Esplanada dos Ministérios em Brasília. Mas entre o libelo ecológico e o registro do quanto belo este planeta ainda pode ser em meio ao nosso desespero ambiental mal administrado, fico com o canto antropológico que as imagens evocam: a Terra vista do céu dá a nossa dimensão de homens, pequenos ou gigantes conforme a estatura do olhar que dirigimos a nós mesmos.

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