quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Clássicos do Sopão


Já cansei de dizer que se o Rio Grande do Norte tem um hino informal - e, sendo assim, muito mais próximo ao coração potiguar - há de ser "Royal Cinema", de Tonheca Dantas, músico cujo próprio nome já é uma melodia sentimental-seridoenses por si só. A valsa de Tonheca é o nosso clássico absoluto, nosso canto wagneriano adaptado aos penhascos rajados que demarcam o país do Seridó dentro da nação potiguar. E se faz ainda mais forte, evidente e clarividente quando executada pelo sax de ouro Ivanildo - por sinal, outro nome bastante comum na região, embora o músico aqui destacado, me informa J. Epifânio na contracapa do LP, seja um cearense bem adaptado ao lugar de Poti. 

Retomando: se "Royal Cinema" já é, tocada por qualquer outro, uma bandeira de emoção fincada no peito seridoense-potiguar, ganha estatura ainda maior quanto interpretada  por Ivanildo. E quando a gente vai além e ouve o LP inteiro onde Ivanildo gravou este petardo emotivo de alta concentrabilidade musical, aí então as palavras escapam como as notas que o toca-discos vai depersando como pétalas de papel no ar. O disco inteiro, com sua icônica capa laranja, é um marco da memória, uma liga intuitivo-emocional que congrega toda uma comunidade por um lado, e você com você mesmo por outro. 

No lado A tem esta "Siboney" que o video do YouTube destaca e outros clássicos do bolero latino. Mas tem também a "Rosa" de Pixingiuinha.  E você (digo, eu) quando ouve pela primeira vez a versão de Marisa Monte com arranjo de Ryuichi Sakamoto fica se perguntando porque aquilo soa tão próximo, sem conseguir lembrar, pelo acúmulo e desgaste do HD da cachola, que conhece a música desde muito antes, via Ivanildo, esse nosso didata informal, educador musical cujos discos, por sorte, eram muito populares nas casas do Seridó quando o seu universo musical ainda era uma galáxia confusa em busca de alguma harmonia. E este lado ainda tem "Nada além", de Custódio Mesquita pra coroar a audição. 

O lado B começa animadaço com a gafieira buliçosa "Kazarão", da lavra do próprio Ivanildo, seguida por uma seleção de sambas aberto por um Ataufo de boa cepa ("Leva meu samba"). E fecha com "Royal Cinema", o que faz você virar o disco e ouvir tudo de novo, aprisionado na singeleza maneira e no sentimento dolentemente puro contido nas notas do sax de ouro. Grande disco, vastas memórias. Um clássico definitivo para o Sopão e para muito mais gente, acredito.  

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