terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma noite no Consulado


Sem um visto que nos permitisse um lugar à mesa para assistir ao show de Khrystal no célebre Buraco da Catita, o mix de casa de samba e boteco pop que anima as noites no bairro da Ribeira, em Natal Citi, recorremos ao Consulado ali em frente. Essa é uma  maneira divertida de contar, em pinceladas diplomáticas rápidas, o capítulo Noite na Ribeira das férias em curso. Era noite de sexta-feira passada e meia cidade desabou em carreiras de celebração de fim de ano para o estabelecimento onde rodas de samba dão o tom há tempo suficiente para que a gente, que também somos filhos de Natal, desejasse conhecê-lo. Mas a potência do chamado publicitário do show de Khystal, que preparou um repertório especial transitando pelas várias facetas do ritmo que confere notoriedade à casa, foi superior à capacidade de absorção de público pelo referido local.

Resultado: chegamos cedo e mesmo assim todos os lugares já estavam tomados. Mas há males que vem para bem, com já diz a filosofia prático-popular dos nossos ancestrais: e eis que, indecisos quanto a ficar por ali diante da lotação esgotada do Buraco em questão – que pareceu sim, simpático como dizem, mas pequeno como ninguém conta – voltamos o olhar para a rua em frente e deparamos com um insólito prédio de ares anos 40, intitulado Consulado Bar, àquela altura vazio e disponível. Como diria Renato Aragão, fumo.

E, surpresa: o Consulado Bar tem ar disso mesmo, de uma distante e nostálgica repartição de expedição de vistos para pessoas em trânsito entre Casablanca e Parnamirim Field nos anos em que a cidade multiplicou sua população e levou um choque cultural de bilhões de volts ao abrigar a base dos aliados nas escaramuças da II Guerra. Tudo estilizado, claro, o que de quebra garante um ar pop-histórico como raramente se vê em Natal – e é incompreensível que seja assim. É entrar no Consulado Bar e notar o quanto a capital de Poti perde, desperdiça ou por outro lado esnoba mesmo ao não explorar, além do sol obrigatório, a herança da história recente que contém.

No Consulado temos uma amostra de com isso poderia se dar: o bar é adornado por reproduções de anúncios da época do conflito, como cartazes de propaganda para adesão aos bônus de guerra, de convocação de reservistas ianques e afins. Um clima absolutamente trampolim da vitória, uma atmosfera Clyde Smith (e se você que lê isso não sabe a quem me refiro isso não diz nada sobre sua ignorância mas tudo sobre o desconhecimento geral da cidade sobre seu passado ainda recente). E se eu lhe disser que, para combinar com essa sessão retro que é a arquitetura em si do bar, com seus arcos internos e seus corredores de piso, supõe-se, original da época, ainda ganhamos de bônus um belo show de uma banda de pop-rock-blues cujo nome criminosamente eu esqueci? Então, como diria João Lennon, tente imaginar aí: Ribeira Velha com Beatles; anos 40 com Dire Streits; mosaicos antigos com Raul Seixas.

Percebeu qual é a do Consulado? Então posso deixar pra depois um capítulo à parte dessa história, que foi o nosso encontro fugaz com um sujeito absolutamente Pinta Natalense enquanto assistíamos ao show da banda de blues neste mesmíssimo bar. Fica pra outra postagem, como caso em particular com direito a texto solo que merece. E assim o Consulado Bar foi uma ótima introdução ao início do show de Khrystal no Buraco ao lado, que estourou em  anos-luz o horário marcado e só se iniciou na boca da madrugada. Ouvimos os três primeiros números do lado de fora do cercado que delimita a Catita e fomos dormir, saciados de história, rock, pop, blues, samba, diversão e amigos como os muitos que encontramos por lá.

*Para saber mais sobre o Consulado, leia reportagem da TN:  
 http://tribunadonorte.com.br/noticia/esse-bar-faz-historia/173814

*Para nossas fotos manchadas da Noite no Consulado, consulte o Tiao Vicente no Focinho Book: http://www.facebook.com/#!/media/set/?set=a.118984678220711.18899.100003275396694&type=1

Um comentário:

  1. Consegui entrar no Catita e assistir ao tão esperado show num aperto danado, mas agora gostaria de ter chegado um tanto depois e ter lhe encontrado lá fora. E olha que nunca entrei no Consulado, mas fui aluna de Clyde Smith. Um cheiro

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