sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Na latada do sabor



Bolo preto, bolo de milho, bolo de batata. Tudo isso pode parecer até banal quando se trata de quitutes regionais constantes de qualquer pacote de passeios de férias, seja organizado ou bagunçado. Mas se a comiçança for ao final da tarde nas latadas de palha que agora fazem parte do pátio da mais que rústica taipocaria de Tabatinga, no litoral sul de Natal-Parnamirim, aí então é aquela história do sabor que se reinventa e se renova.

A tapiocaria é antiquíssima - muito mais do que a gente imaginava. Ontem, comendo bolo com café por lá depois de um giro por Cotovelo e Camurupim comigo e com os meninos, Rejane viu numa placa - sim, a tapiocaria agora é enfeitada por um sem número de placas divertidas - que o "estabelecimento" existe desde 1959. E eu que pensava que em 1959, o ano que por um momento nem parece ter feito parte de algum calendário de verão, nem gente existia naquelas paragens. Estupidez minha, claro, que as comunidades litorâneas são muito mais antigas que a enseada que vira piscina natural ali pertinho, em Camurupim. Frequentamos - esse verbo aí decorre muito mais do desejo de fazer da tapiocaria um programa constante do que das possibilidades de isso acontecer de fato - desde os idos de 1994, pouquinho antes de a gente juntar as malas e ir aventurar em BSB citi. E cada vez que a gente volta aqui e dá um passeio pelo litoral sul tem que parar pra comer e comprar uma boa reserva de beijú e afins na tapiocaria.

A rusticidade a um nível quase mítico - vide o altar que ornamenta e protege o barracão onde os alimentos são feitos sobre um fornão gigante de tijolos - sempre foi uma marca da tapiocaria. Mas agora deram um trato visual no lugar que o tornou ainda mais curioso, interessante, bonito e divertido. De uma beleza ligada à simplicidade, com aquele beco de chão de areia onde, basta entrar, o visitante já se vê envolvido em outro clima. Nas plantas, repare, tem até cidreira, que você pode levar pra casa praquela chazinho providencial. Um pequeno espaço lateral meio cimentado meio recoberto por areia é o quadrado do forró - e falando em forró, a trilha sonora especialíssima, que vai de Luiz Gonzaga aos cantores do rádio dos anos 30 completa a ambientação. Que disneylândia que nada, bom mesmo é a tapiocaria cênica onde você se distrai com o clima de terreiro de litoral enquanto espera seu quitute ficar pronto - e na hora! E ainda tem o simpático cafezinho a 50 centavos que você serve a você mesmo, conforme o espírito da placa mais sugestiva entre todas aquelas penduradas entre paredes e árvores. Uma placa que dá vontade de arrancar e levar não para casa, mas para a vida: sirva-se você mesmo; nada de esperar pelos outros.

Micro-empresa de sucesso em tabuleiros de litoral é isso aí. Não precisa de mapa nem roteiro nem preço. É simples, bonito, delicioso, fácil de chegar desde que você esteja entre Tabatinga e Camurupim e tenha boca para parar o carro e perguntar a plenos pulmões a quem encontrar na beira da estrada: - Ei, onde fica a tapiocaria?

*Uma última dica: acesse o perfil de TiaoVicente no Focinho Book e veja mais fotos da tapiocaria mais incrementada da costa brazuca.

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