terça-feira, 27 de dezembro de 2011

À mesa com Clotilde (1)



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Num texto antigo do blogue que mantém na internet, a escritora e multiativista da vida inteligente que é Clotilde Tavares contou que gosta de presentear os amigos com artigos inesperados, surpresas impensáveis, acontecimentos de agendamento remoto – ou mesmo impossível. Já deve ter ficado claro que esses presentes não são livros, discos, roupas, brilhantes ou afins: são aquilo que, na falta de melhores palavras, a gente costuma chamar de “algo mais”. Pois esta semana, precisamente no dia 25 último, dia de Natal, logo depois daquele almoço delicioso que toda família prepara com os pratos remanescentes da ceia da véspera, ganhamos – eu, Rejane, Bernardo, Cecília, dona Isabel, dona Sebastiana, Sandra, Rafael, Raísa, Titina e Cezar, enfim, toda essa turma que está acampada para as férias de fim de ano num apartamento em Lagoa Nova, Natal-RN – um presente com essas inesperadas características, dado pela generosidade de Clotilde Tavares.

No tuíte, que é um lugar virtual dos mais propícios para a brincadeira com palavras e ideias, inventei uma coisa chamada “leitor bagunçado” para explicar a desordem das minhas leituras, que saem de um Stephen King vulgar para um Elias Canetti canônico num piscar de olhos, sem a menor cerimônia – e a maior das impaciências. Pois bem: o adjetivo bagunçado foi aprovado pelos seguidores – principalmente por Clotilde – e logo começou a ser ampliado para outras áreas da vida deste escrevente de blogue casual. No bate-papo com a escritora, quando ainda estava na trabalheira de Brasília, combinamos um “café bagunçado” para quando estivesse já de férias em Brasília. O café foi a desculpa para esse encontro que se deu, como disse, no dia de Natal, na cidade de nome idem, ótima data e local para uma prosa vespertina cujo cardápio de assuntos foi da inventividade do vocabulário paraibano até as aventuras de Clotilde nas ladeiras de Goiás Velho-GO.
O que eu não esperava era que Clotilde Tavares se tornasse a atração número um de uma tarde-noite no palco da sala do apartamento alugado por temporada para o deleite da plateia formada pela família inteira. Quando vimos, estávamos todos nas mãos da narradora envolvente, da atriz ocasional, da professora involuntária, da animação fervilhante de alguém que transmite vida a cada sílaba que pronuncia e a cada sorriso com que presenteia o mundo. Parecia até uma palestra privativa com que ela nos tivesse presenteado – eu falei, lá no início, que se tratou de um presente inesperado, e digo agora que foi uma dádiva natalina como nunca essa família bagunçada imaginou pedir a Papai Noel, quanto mais receber, de fato. Cientes da mágica desse encontro e desse presente, começamos até a elaborar uma metalinguagem sobre ele, brincando que se eu tivesse gravado numa câmera poderia vender nas lojas em DVD, com o sugestivo título – que, claro, foi Clotilde quem sugeriu – de “Enquanto Titina não vem”. Isso porque a parte mais animada da conversa, onde se tratou, entre outros temas, sobre a mancada da apresentadora sulista que lascou um “furico” na tela global, no jornal ao vivo, sem ter a menor ideia do significado nordestino da palavra, aconteceu enquanto a gente esperava Titina chegar para a família toda ir jantar com Tio Totinha. Mas esse já é outro capítulo dessas que tem sido, mal começaram, as mais divertidas férias dos últimos anos em Natal citi.

Em nome do bagunçado clã Vicente-Santos-Medeiros-Torres-e-agregados, aqui vai nosso muito obrigado, Clotilde. O próximo Natal vai ter que se esforçar muito para nos presentear com algo minimamente comparável ao nosso encontro na tarde do último dia 25. Feliz 2012 pra você e todos que sabem presentear a humanidade inteira com o prazer de estar com o grupo de pessoas mais à mão e saber cativá-lo como você fez com a gente.

E se você que está lendo isso tudo agora ficar com vontade de pedir um presente desse tipo no próximo Natal, arrisque aí. Não vende no shopping, não se anuncia na tevê e tampouco está na lista dos mais-mais do amigo secreto. Mas essa mulher, tanto quanto fascinante e espetacular à maneira dela, é também imprevisível, energética e intempestiva como convém às pessoas que vivem de verdade. E, sendo assim, quem sabe não atende ao seu pedido e surge plena na sala como uma aparição a reconfirmar a crença tão natalina no valor do ser humano? Pode começar a escrever a cartinha. 

2 comentários:

  1. Tião, depois da canseira que dei em vocês, falando pelos cotovelos, rindo como uma louca e monopolizando a conversa, só mesmo sua bagunçada generosidade para gostar da doidice e ainda me dar esse post maravilhoso de presente.

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  2. Voltei aqui para mostrar à minha faxineira as fotos de "Socorro" ao natural. A criatura é fã de Socorro, que é um dos assuntos recorrentes da conversa dela, toda segunda-feira, quando vem na minha casa dar um jeito nas coisas. E reli de novo com deleite, Tião, suas palavras carinhosas. É por isso que vale a pena viver.

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