Neste
domingo, respondeu à perguntas da sessão “O que eles pensam”, do Correio
Braziliense, Roger de Renor, o pernambucano para sempre associado na cultura
pop-rock-maracatu-nordestina ao movimento manguebeat, cujo manifesto
Caranguejos com Cérebro está completando 20 anos. Roger era o dono do bar e
espaço Soparia, plataforma de lançamento dos músicos pernambucanos que assumiam
a estética da lama local como ingrediente fundamental para construir uma nova
música, indiferente aos padrões do pop-rock “nacional” já então em fase de
avançada perda de criatividade no início dos anos 90, além de transpor outra barreira
de estilo, esta “local”, representada pela exigência de enraizamento cultural
absoluto que faziam todos aqueles sombreados pelo movimento armorial, outro marco
pernambucano anterior, levantado pelas
mãos não menos fundamentais do escritor Ariano Suassuna em conjunto com músicos
que mesclavam a tradição erudita com o repertório de tinturas medievais que
caracteriza a estética popular nordestina. Na entrevista ao Correio, Roger abre
todos esses pacotes e, com a informalidade que este tipo de avaliação permite,
empacota tudo novamente com os barbantes que o manguebeat legou à cultura
musical pernambucana reformatada em estética & indústria, mídia &
mensagem. Seguem os trechos:
MATUTICE
ASSIMILADA
Chico
Sciense e Nação Zumbi cantando com Gilberto Gil no Central Park é melhor que
uma terapia de grupo como o estado inteiro. Com um megaterapeuta dizendo: “Fiquem
tranquilos que não há nada de errado com o sotaque de vocês, com a forma como
vocês se vestem. A matutice não é de vocês, é de quem tem o preconceito.”
LOCAL
E NACIONAL
Não é
uma questão de o músico ser descoberto nacionalmente, mas de envolver
nacionalmente as pessoas. O principal sintoma da mudança foi esse, as pessoas
começaram a se interessar por nós, saber que não paramos em Geraldo Azevedo, em
música de voz e violão. Esse interesse do músico construir passou para uma
geração nova que não está a fim apenas do sucesso. A moçada está a fim de
êxito, de viver da música, escolher o lugar onde vai morar, não ser obrigada a
morar no Rio de Janeiro.
ALÉM
DO ARMORIAL
Queriam
diversão como o que tem ali, com o que está perto, com o nosso repertório, o
nosso quintal, sem essa culpa de ter que ser armorial. Hoje, a partir dessa
história despretensiosa e até acidental do movimento manguebeat, foi possível
liberar gente como Mestre Ambrósio e Siba.
A
MORTE ESPETACULAR COMO CARTÃO DE VISITAS
Quando
o jornal da tevê toca aquela musiquinha do plantão, até hoje me lembro da
parada. A gente entrou pro mainstream da mídia pela porta mais funda e mais
fúnebre que existe. O que podia ter sido
o fim da história talvez tenha sido um caminho mais rápido para o entendimento
das novas gerações. Uma geração perdeu uma referência e as outras ganharam
todas as referências.
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