segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cadê Roger?



Neste domingo, respondeu à perguntas da sessão “O que eles pensam”, do Correio Braziliense, Roger de Renor, o pernambucano para sempre associado na cultura pop-rock-maracatu-nordestina ao movimento manguebeat, cujo manifesto Caranguejos com Cérebro está completando 20 anos. Roger era o dono do bar e espaço Soparia, plataforma de lançamento dos músicos pernambucanos que assumiam a estética da lama local como ingrediente fundamental para construir uma nova música, indiferente aos padrões do pop-rock “nacional” já então em fase de avançada perda de criatividade no início dos anos 90, além de transpor outra barreira de estilo, esta “local”, representada pela exigência de enraizamento cultural absoluto que faziam todos aqueles sombreados pelo movimento armorial, outro marco pernambucano anterior,  levantado pelas mãos não menos fundamentais do escritor Ariano Suassuna em conjunto com músicos que mesclavam a tradição erudita com o repertório de tinturas medievais que caracteriza a estética popular nordestina. Na entrevista ao Correio, Roger abre todos esses pacotes e, com a informalidade que este tipo de avaliação permite, empacota tudo novamente com os barbantes que o manguebeat legou à cultura musical pernambucana reformatada em estética & indústria, mídia & mensagem. Seguem os trechos:


MATUTICE ASSIMILADA
Chico Sciense e Nação Zumbi cantando com Gilberto Gil no Central Park é melhor que uma terapia de grupo como o estado inteiro. Com um megaterapeuta dizendo: “Fiquem tranquilos que não há nada de errado com o sotaque de vocês, com a forma como vocês se vestem. A matutice não é de vocês, é de quem tem o preconceito.”



LOCAL E NACIONAL
Não é uma questão de o músico ser descoberto nacionalmente, mas de envolver nacionalmente as pessoas. O principal sintoma da mudança foi esse, as pessoas começaram a se interessar por nós, saber que não paramos em Geraldo Azevedo, em música de voz e violão. Esse interesse do músico construir passou para uma geração nova que não está a fim apenas do sucesso. A moçada está a fim de êxito, de viver da música, escolher o lugar onde vai morar, não ser obrigada a morar no Rio de Janeiro.


ALÉM DO ARMORIAL
Queriam diversão como o que tem ali, com o que está perto, com o nosso repertório, o nosso quintal, sem essa culpa de ter que ser armorial. Hoje, a partir dessa história despretensiosa e até acidental do movimento manguebeat, foi possível liberar gente como Mestre Ambrósio e Siba.



A MORTE ESPETACULAR COMO CARTÃO DE VISITAS
Quando o jornal da tevê toca aquela musiquinha do plantão, até hoje me lembro da parada. A gente entrou pro mainstream da mídia pela porta mais funda e mais fúnebre que existe.  O que podia ter sido o fim da história talvez tenha sido um caminho mais rápido para o entendimento das novas gerações. Uma geração perdeu uma referência e as outras ganharam todas as referências.

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