Esta semana aprendemos muito com Stephen Hawking, o
cientista que, misturando astrofísica com superação pessoal, colocou em questão
os limites do ser humano. Acrescento que
por estes dias também estamos tendo a oportunidade de aprender muito com
Vladimir Putin. Isso mesmo, o homem forte da Rússia que, além de todos os
defeitos que lhe são imputados, esta semana também passou a ser acusado de ter
usado armas químicas na Inglaterra para matar um agente duplo de espionagem, colocando
muito mais gente em perigo.
Qual seria o ensinamento de Putin, tão odiado ocidente
afora, embora aclamado como ídolo pop entre os seus – especialmente entre os
seus mais jovens eleitores russos? Justamente isso: a aclamação. O que dizem
esses eleitores novinhos ou nem tanto para justificar a adoração por esse outro
Vladimir? Entre várias outras palavras que usam, como “próximo do povo”, “forte”
e “pratica esportes” (pra gente ver como o apelo político funciona segundo
outras regras tão estranhas ao que pensa o jornalismo, a ciência política, a
academia e alhures), os russos falam em “estabilidade”. Temem que, sem um cara
valente como Putin, a Rússia volte aos dias de tumulto que viveu nos anos 90,
quando, para além dos autoritarismos de sempre, o que havia no ar eram dúvidas,
insegurança e outras características de um país à deriva.
Em um Brasil cheio de dúvidas, insegurança e vivendo
praticamente à deriva, não custa ter humildade e reconhecer que “estabilidade”
pode ser a palavra-chave – além do protesto puro e simples, claro – na definição
do sr. Eleito ao final de outubro deste ano. Porque as pessoas, é mister
reconhecer, apreciam a estabilidade, gostam de ter um parâmetro com o qual
medir suas próprias possiblidades, veneram uma certa certeza – essa matéria
enganadora que também, tantas vezes, impede tantas pessoas de progredir, tanta
necessidade têm elas de garantias de que tudo dará certo. Nem sempre – a vida
não se processa assim, e a ousadia é o outro lado da moeda da estabilidade.
Mas o anseio por estabilidade está lá, adormecido, dentro
de cada um, esperando o momento de dar seu pitaco, fazer aquele gesto mínimo
que diz tudo na hora mais inesperada, com – aí sim – os resultados mais imprevisíveis.
Ou Donald Trump não é um produto dessa mistura química de emoções e projeções
de camadas variadas de segmentos sociais unidos por uma mesma aspiração que não
soa agradável ao ser ouvida?
Então, não desprezem Putin, não minimizem o sentimento dos
russos. Procurem entendê-los dentro das circunstâncias deles, que em vários
momentos podem ser também as nossas. Vivemos nos últimos dias momentos
realmente turbinados de emoções fortes à sombra da morte e da longevidade não
esperada de Hawking, assim como das novas denúncias de Madame May contra o
vilão juramentado Putin. Não precisávamos nem um pouco do fuzilamento de uma
vereadora negra dedicada à defesa dos direitos sociais e humanos para encerrar
a semana.
Mas sobre a lição incontestável de Marielle Franco, temos
uma palavra muito mais forte, rica e bela do que “superação” e “estabilidade”: coragem.
Com um pouco de cada uma delas podemos reerguer a dignidade brasileira perdida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário