terça-feira, 21 de novembro de 2017

LEO NO SERIDÓ

Leonard Cohen foi

encontrado ontem,
assobiando um blues,
num banco de praça
em Carnaúba dos Dantas.
Vendo ao longe barracas de feira
cobertas com plásticos azuis
que brilhavam ao sol da uma da tarde.
E, mais perto, em disparada diante do banco,
rumo sabe-se lá para onde, levas de bicicletas
Monark com selin gasto e aros já meio entortados.


Leonard Cohen viu bares com pouca luz
e muitos pinguços, mesas de sinuca de arestas
desgastadas, moças de short, alpercatas estragadas,
caminhonetes pintadas com as cores da bandeira
do Brasil e um sem número de lembrancinhas 
de N. S. das Vitórias. Desencontrado do momento e
do lugar, Leonard Cohen estranhamente 
combinava com tudo - a luz de filme do cinema novo,
o ruge-ruge da tarde de feira, a velha barbearia na esquina.


Não havia highway nem dinners ao alcance
da visão de Leonard Cohen sentado num banco
de praça em Carnaúba dos Dantas.
Talvez houvesse, quando muito, quem sabe?
um resto de solo de sax de alguém 
ensaiando Royal Cinema num quarto inexato
coberto de telhas cruas e encarnadas.
E Leonard Cohen, entre marchantes, feirantes,
sernatejos e flores de plástico, pensou ter visto
Edward Hooper tomando uma lapada num
morre-em-pé, vulgo boinho, ali na esplanada
que se abre como uma big farm de vento
aos pés do Monte do Galo. 


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