Contra
tudo o que está aí, aqui estou eu. Mastigando exoesqueletos do quinto milênio
da correção política que fizeram a gentileza de suportar as agruras do nosso
tempo só pra antecipar entre nós os avanços neocivilizatórios. E engasgando com
chicletes sabor clichê a cada página virada, cada click no face, cada passo à
frente no cursor do twitter. Melhor não começar pelo óbvio: vamos, antes, ao
que ninguém esperava (nem a turma do quinto milênio; ou sobretudo a turma do
quinto milênio). É Obama, o ex-ban-ban-ban da modernidade enfiada à força nas
cucas dinossáuricas dos caretas. Quem, me diga, quem poderia imaginar que uma
personalidade tão-tão da política pop planetária passaria tão assim-assim
da condição de mito vivo para a de lixo
roto? Como é que se dá uma transformação dessa escala? Não é pra desconfiar de
que, independente do sujeito, há que se buscar melhores explicações nos
processos? Vejo o mergulho subterrâneo da reputação de Obama e me vem à mente a
figura de Marina Silva. Quem ainda vai ligar o nome à pessoa? O quanto do
desconhecido e inesperado fundamentalismo espião de um Obama poderia encontrar
ressonância num possível manifestar das firmes convicções de uma Marina
presidenta? Não estou sendo claro? – então está muito bem, que o propósito nem esse.
Quer clareza? Vá ler as placas da manifestação mais próxima.
Na
capa do Correio Braziliense e na
primeira página interna do jornal, surge um extraterrestre: é Dilma, rindo. Em
duas – duas! – fotos. Na capa e lá dentro. Na capa, ao lado de Joaquim Barbosa,
que de comediante não tem nada. Lá dentro com os representantes dos
manifestantes que não têm representantes – esqueça esses detalhes e vá direto
ao ponto – inclusive inclinando levemente a cabeça para um lado, numa expressão
que além do riso denota também um certo espírito meio Brasil carinhoso. O que
João Santana não fizer multidão nenhuma nas ruas será capaz de realizar.
Pessoal, eu apoio Dilma, viu? (não viu? Leia o post “Assim a meta estoura”, de
umas premonitórias semanas atrás) Mas dispenso esse riso pré-eleitoral: prefiro
que ela demita o adesista global Paulo Bernardo e passe a ouvir mais um santo
entronizado no Palácio do Planalto chamado Gilberto Carvalho. Precisa ir pra
rua pra conseguir isso? Vou não, coração – que a idade dinossáurica implanta desconfianças
de tal ordem no meu espírito que me permito assistir a tudo com o pé direito
atrás. Se você quer ir, vá sossegado, que eu não vou jamais lhe tomar à força a
bandeira invisível que você carrega às vezes sem notar.
E
se não vou, pior pra mim, que perco amigos, contatos, reputação. Emprego?
Seguramente não, que este eu consegui na disputa legítima do concurso público
que agora também deram para difamar . E ainda tenho que ficar me explicando –
supremo prazer para quem tem o mau hábito de corrigir o outro de dez em dez
minutos. Fazer o quê, se o brasileiro teve um surto de cidadania e um bando de
gente à sua volta resolveu que quer ser Edward Snowden a qualquer custo... Cada
povo tem o uiquiliquis (thanks, Mussum) que
merece, diria o cínico – mas se há algo que me causa repulsa é a figura do
cínico; então retiremos o que por último foi dito. Até porque, se é para
dividir a humanidade em turmas, se é para contemplar a multiplicidade de
questões e estilos, dinamitando com um novo web-iluminismo certo bipartidarismo
prático que levamos anos – e muito sangue – para construir, vamos partir logo para a facilidade do bolebolenses
x saramandistas. Sim, cada geração tem o “Anos Rebeldes” que é capaz de
entender – sai pra lá, cínico de bosta, você já não foi expulso desse post, não
lhe tomamos a bandeira debaixo de porrada? Ora... Eu só fico me perguntando –
eu, meu dinossaurismo renitente e minhas perguntas! – quem fará, ou já fez mas
nem notou, o papel de liga camponesa do atual momento político. E veja que
agosto nem chegou, com o julgamento dos embargos do mensalildo, esse menino
fofinho que a gente trata a pão de ló, belezura que sempre pode crescer e gerar
filhos, netos, bisnetos. Tem importância não; agora e logo mais, contra tudo o
que está aí, eu ainda estou aqui. Pode me tomar a bandeira rasgada e baixar a
porrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário