Somos contra a importação de médicos. Terminantemente
contra. Também não admitimos a importação da dignidade. Somos igualmente
refratários à importação de tratamento igualitário para todos. E absolutamente
avessos à importação de qualquer forma de reserva aos historicamente menos
favorecidos em universidades, no mercado de trabalho, no painel geral de
possibilidade de ascensão social e outras subjetividades do tipo. Contra a
importação do bom senso, não à importação dos direitos iguais, veto à participação
no debate público de quem não tem prestígio nos meios de comunicação.
Nem por isso você precisa nos taxar de intolerantes,
politicamente fechados ou xenófobos. Somos totalmente favoráveis à importação
de carros de luxo, perfumes, roupitchas e outros supérfluos que de uma hora
para outra, você sabe, tornam-se absolutamente necessários. É o tipo da importação
que não machuca ninguém, não altera nada, não coloca pobres contra ricos, não
provoca manifestações de qualquer espécie. Também somos favorabilíssimos à
importação do bom gosto, do jeito exclusivo de se viver, da fama e da fortuna –
para quem tem berço capaz de acomodar bem essas virtudes natas.
Dito isso, tudo é negociável, que é pra que ninguém pense
que somos o retrato emoldurado do atraso: que tal, por exemplo, substituir essa
absurda importação de médicos pela saudável exportação dos doentes? Eles vão
achar o máximo sair dos rincões que por sinal deveriam ser mantidos
ecologicamente intocáveis e serem jogados no seio da civilização. Cada posto de
saúde no grotão mais renitente poderia se transformar em posto de recrutamento.
Algo assim como um neo-pau de arara. Uma alternativa não só de saúde mas também
de vida para esse pessoal. Uma gente doente que, assim como as criancinhas miseráveis
do Nordeste que tantos europeus caridosos tentam sem sucesso adotar, poderia
ter ao menos uma chance na vida. Sem precisar de médico, de cotas ou das tais
políticas públicas. Curtiu?
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