sábado, 28 de julho de 2012

Fórmula Midway



Natal pode até ser excluída da Copa, a se confirmarem determinadas previsões e certa torcida-contra, se afinal a Arena das Dunas não ficar pronta a tempo de receber o evento esportivo mundial de 2014. Mas desde já não existem motivos para lamentações: Natal já tem, e pode se jactar disso, uma das mais modernas, revolucionárias, criativas e espetaculares arenas esportivas de todo o planeta. Só muda o esporte. Sai o futebol, entra o automobilismo. O que se quer dizer aqui, sem mais prolegômenos, é que Natal tem o maior e mais movimentado autódromo in door de toda a galáxia: o estacionamento do shopping Midway Mall. Se você aprecia a velocidade, as ultrapassagens sensacionais e a emoção do risco sobre quatro rodas em estado bruto não precisa de nenhum Interlagos. Basta tentar estacionar ou sair das garagens do Midway, como se fora um motorista normal, desses que infelizmente precisam passar no shopping pra comprar uma coisa ou outra antes de ir pra casa, e pronto: sua diversão está garantida. Só falta mesmo um Galvão Bueno pra narrar os lances aos quais você, motorista leigo, vai se submeter entre os profissionais do circuito Midway.

O curioso é que a cidade ainda não tenha despertado para este tesouro. Talvez pelo fato de o estacionamento ser gratuito, tem neguinho subestimando a capacidade inclusive financeira do negócio. Só isso explica o fato de ninguém ainda haver proposto um Grande Prêmio da Hora da Saída do Midway Mall, uma prova das mais instigantes, com duração de 30 minutos e bandeirinha de campeão para quem conseguir gastar menos tempo para sair do estabelecimento no horário em que todos tentam fazer o mesmo. Claro que o dia e horário ideal é um sábado à noite: aquele frota tremenda, com a maior cara de gado de lata, cada rês de marca famosa empurrando-se umas sobre as outras para sair o mais rápido possível do mesmíssimo local onde umas duas horas antes o desafio era justamente o contrário – ver quem conseguia entrar primeiro no shopping. E vale tudo no Grande Prêmio da Hora da Saída do Midway Mall: fechar o adversário; correr nas ruazinhas mais estreitas e encurvadas do, va lá, circuito; e naturalmente buzinar sem constrangimento para o otário que está atrapalhando o bom andamento da corrida bem na sua frente.

O desprezo de Natal para com aquilo que há tempos vem sendo um exemplo insuperável de velocidade em terreno só aparentemente limitado pela precaução e pelo bom senso também implica em outro desperdício: no dia em que as autoridades municipais – especialmente aquelas em vigor até janeiro próximo, ufa – descobrirem o potencial dos deslocamentos nos cinco pisos de garagens do Midway prestarão também um grande serviço ao país: dar uma aulinha de mobilidade urbana. Porque mobilidade é o que não falta no estacionamento do maior shopping de Natal, especialmente se você estiver lá num dos meses do verão. Aí sim é que a pressa – esse valor tão absoluto quanto a posse e a pose – torna-se um imperativo no circuito. Não há de ser nada, só um efeito colateral do calor turbinando motores já naturalmente bem esquentados. E se uma das obsessões do país agora é a capacidade de deslocamento em menor tempo possível, a bandeira da impaciência sobre rodas, tem lugar melhor que este pra mostrar como resolver o problema? No grito – ou na buzina, pra ser mais coerente. Então, da próxima vez que for até lá comprar um DVD nas lojas Americanas, não esqueça o capacete. Além de proteger contra naturais acidentes de percurso que nunca mereceram tanto este nome, você ainda livrará seus ouvidos das buzinadas e xingamentos de quem, infelizmente, e ainda que apelando para todo o potencial Ayrton Senna que trazem consigo, não consegue chegar – digo, sair – na frente.

* Caso você sofra alguma avaria e precise recorrer aos boxes enquanto corre ou se defende dos velocistas no Circuito Midway, a dica é seguir o impagável anúncio de rua que ilustra a postagem, tão confiável quanto a pista em questão. A publicidade pode ser conferida in loco no cruzamento da rua Açu com avenida Afonso Pena, bairro Petrópolis.

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