A
oceanografia é um mistério, a limnologia não me dá bola, os fatores antrópicos
não moram na mesma rua que eu, e o balanço sedimentar não me sugere mais que
uma rede onde um desavisado de pés sujos de areia dormiu na noite passada. Sim,
nada manjo das explicações técnicas e científicas levantadas pelo pessoal da
área para explicar as causas, a gravidade e a necessidade de atenção para a
antimoda desde não-verão em Natal: a erosão costeira em Ponta Negra. Erosão
costeira é o máximo a que me permito em termos de terminologia, porque para o
meu pobre e saudosista dicionário o fenômeno que fez picadinho do calçadão da
praia poderia ser chamado mesmo é de voçoroca – por sua vez um termo pra lá de
técnico que aprendi nos tempos do Colégio Agrícola de Jundiaí, não muito
distante do local e do assunto em questão.
A fixação
com a terminologia devo a um artigo sobre o problema escrito pelo tampa Eugênio
Cunha numa edição dominical da velha Tribuna do Norte. Mas diante dos escombros
do passeio marítimo – olha o palavreado se metendo aí de novo! – não me vem à
cabeça nenhum sufixo acadêmico capaz de esquadrinhar com régua e compasso os
afundamentos da paisagem: vem, sim, a memória dos tempos em que enormes
buracões compunham verdadeiros cânions nos barrancos imediatamente anteriores à
praia de Ponta Negra. Quem conheceu a praia no início dos anos 80 há de se
recordar: não havia nem calçada, quanto mais calçadão. Muito menos pousadas,
hotelões e ônibus de traslado da CVC. Não é que fosse melhor – era diferente.
Mas como se trata da natureza, há sempre aquele elemento de (de)semelhança se
insinuando para que a gente não pense que, seres humanos, somos maiores do que o
ambiente.
Por este
princípio, a “erosão costeira” da Ponta Negra atual não passa de um remake
turbinado dos buracões que faziam o tabuleiro pré-praia dos anos 80 parecerem
uma mui particular espécie de superfície lunar. Ironia do tempo e da natureza:
marco da nossa imobilidade crônica, contra o qual temos de lutar como um antigo
pescador às voltas com o peso de suas redes – um buraco situado bem mais
embaixo. Mas, quer saber? O turista mesmo, este ser indiferente a erosões e
borboletas, tá nem aí: vista do balanço das ondas, a enseada continua tão
bonita que nem dá pra notar as pedras soltas da calçada espreguiçando-se areia
adentro como quem quer tomar um sol restaurador. Ou então é minha miopia
seletiva que só enxerga o que desejo ver, segundo o ângulo mais sentimental.
Uma placidez de praia de meio de ano que só é prejudicada mesmo – sobretudo
nesta época de marés baixas que fazem da areia um espelho do Morro do Careca –
quando sua caminhada é interrompida por um brutamontes de ferro requisitado
pelas obras. Há praias em que exótico é um velho navio encalhado onde menos se
espera. Na Ponta Negra erodida pelo tempo e pela memória, estranho é uma
retro-escavadeira trogloditando suas rodas na areia do mar.
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