Acabo
de conferir aqui num portal da rede (com r minúsculo) que é aquilo
mesmo de que desconfiava no post anterior: Marina Silva deu uma
entrevista hoje para dizer que dirá em outra entrevista amanhã se vai ou
não disputar a Presidência da República. Jornalistas têm cometido
muitas gafes, pra não dizer idiotices puras e simples, nos últimos
meses, e estrelado involuntariamente o
ranking do "pior das redes sociais", quase sempre merecidamente. Mas
hoje, li agora há pouco num portal, depois de Marina dizer que que só
vai decidir amanhã, uma jornalista não identificada soltou um sonoro
"fala sério". Pois eu acho que essa jornalista externou, de supetão,
quase sem querer de tão natural, o que vai pela mente de grande parte
dos brasileiros diante do comunicado de Marina.
A imprensa
brasileira, que de uns tempos pra cá pegou a feia mania de dizer que
fala em nome do país (me exclua fora dessa, por favor) com suas
manchetes tipo sermão de padre formado nos seminários do Instituto
Millênio, bem que poderia dar destaque à expressão da jornalista. Não só
dar destaque: aderir, tomar como sua esse sintomático "fala sério",
estampá-lo em manchete e enfiar goela abaixo dos leitores e assinantes
(por uma dessas cancelei dias atrás minha assinatura do Correio
Braziliense, mas esse é outro papo). "Fala sério" é o mínimo que se pode
dizer diante deste cozinha-galo de Marina, que, eu acho, está começando
a brincar com aqueles quase 20% de votos que obteve há pouco menos de
quatro anos.
Mas, por outro lado, estamos no terreno da
política, onde até o mais sonhático dos militantes não tem como abrir
mão de táticas: só posso acreditar que amanhã, sabadão, Marina Silva vai
descer do salto com que seu círculo de assessores a calçou e anunciar,
na antepenúltima hora, em lance sensacional e emocionante, já por si
mesmo carregado de um arrebatamento que se traduz em votos e novas
adesões que, sim, vai sair candidata pelo PPS, PTB, Solidariedade,
Contrariedade, Pros ou Contras, não importa. O suspense, a demora, o
bico-doce de quem se faz de difícil teria sido apenas para confeitar na
medida certa o bolo do tão esperado anúncio - que, claro, já faria o
efeito de angariar simpatias e votos. Meios alternativos de fazer o
mesmo que a "velha" política que a candidata soberbamente diz que veio
para eliminar. Tudo legítimo, se não contrariasse a construção do
próprio discurso que ela mais e mais vezes faz questão de declamar. Se
não for assim, a insondabilidade do pensamento e da estratégia política
da candidata a coloca a distância suficiente de ser compreendida por
qualquer eleitor, seja ou não seu simpatizante. E como se pode aderir a
quem não se compreende?
Acho que a Justiça Eleitoral está
errada em negar o registro do partido de Marina (enquanto as fraudes dos
outros vão ficando pelo caminho); não voto em Marina, pelo menos a
princípio; mas considero que o movimento à que ela se põe à frente
existe de fato, socialmente falando, e por isso deve ter sua expressão
partidária reconhecida (assinaturas à parte, o que é quase outra
história e também diz muito sobre a candidata e seu séquito prematuro).
Mas lamento que a ex-senadora do PT tenha enveredado por um caminho tão
sinuosamente individualista em termos políticos que beira a
autoproclamação absoluta, sem o lastro de um movimento organizado como
ocorreu com o partido pela qual ela se notabilizou. Alfredo Sirkis que o
diga (leiam os portais). Agora triste, decepcionante mesmo, foi ver uma
figura como Domingos Dutra levado a trocar o PT pelo partido de
Paulinho da Força em meio às aluviões desta confusão toda. Também vi
hoje que o pedetista histórico Miro Teixeira - com quem não simpatizo
nem antipatizo - resolveu entrar para o Pros (ele que é sempre tão
contra), também ele à deriva depois da decisão da justiça eleitoral
sobre a Rede - agora, sim, com maiúscula mas sem registro.
Acho que
Marina tem grande responsabilidade neste vespeiro de abelhas tontas a
que assistimos. E prorrogar até o último minuto o seu anúncio não ajuda
em nada a melhorar o estado das coisas. Não há nada de errado em que o
que é alternativo seja também algo razoável - é da vida, essa evidência
que dividimos todos e da qual a boa política é também uma extensão. Dito
isso, ou tudo isso, só me resta repetir esse chavão batido que hoje uma
jornalista anônima transformou de chofre numa reação tão autêntica
quanto original diante da massadas de Marina Silva: fala sério,
candidata!
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