sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Fala sério, Marina Silva

Acabo de conferir aqui num portal da rede (com r minúsculo) que é aquilo mesmo de que desconfiava no post anterior: Marina Silva deu uma entrevista hoje para dizer que dirá em outra entrevista amanhã se vai ou não disputar a Presidência da República. Jornalistas têm cometido muitas gafes, pra não dizer idiotices puras e simples, nos últimos meses, e estrelado involuntariamente o ranking do "pior das redes sociais", quase sempre merecidamente. Mas hoje, li agora há pouco num portal, depois de Marina dizer que que só vai decidir amanhã, uma jornalista não identificada soltou um sonoro "fala sério". Pois eu acho que essa jornalista externou, de supetão, quase sem querer de tão natural, o que vai pela mente de grande parte dos brasileiros diante do comunicado de Marina.

A imprensa brasileira, que de uns tempos pra cá pegou a feia mania de dizer que fala em nome do país (me exclua fora dessa, por favor) com suas manchetes tipo sermão de padre formado nos seminários do Instituto Millênio, bem que poderia dar destaque à expressão da jornalista. Não só dar destaque: aderir, tomar como sua esse sintomático "fala sério", estampá-lo em manchete e enfiar goela abaixo dos leitores e assinantes (por uma dessas cancelei dias atrás minha assinatura do Correio Braziliense, mas esse é outro papo). "Fala sério" é o mínimo que se pode dizer diante deste cozinha-galo de Marina, que, eu acho, está começando a brincar com aqueles quase 20% de votos que obteve há pouco menos de quatro anos.

Mas, por outro lado, estamos no terreno da política, onde até o mais sonhático dos militantes não tem como abrir mão de táticas: só posso acreditar que amanhã, sabadão, Marina Silva vai descer do salto com que seu círculo de assessores a calçou e anunciar, na antepenúltima hora, em lance sensacional e emocionante, já por si mesmo carregado de um arrebatamento que se traduz em votos e novas adesões que, sim, vai sair candidata pelo PPS, PTB, Solidariedade, Contrariedade, Pros ou Contras, não importa. O suspense, a demora, o bico-doce de quem se faz de difícil teria sido apenas para confeitar na medida certa o bolo do tão esperado anúncio - que, claro, já faria o efeito de angariar simpatias e votos. Meios alternativos de fazer o mesmo que a "velha" política que a candidata soberbamente diz que veio para eliminar. Tudo legítimo, se não contrariasse a construção do próprio discurso que ela mais e mais vezes faz questão de declamar. Se não for assim, a insondabilidade do pensamento e da estratégia política da candidata a coloca a distância suficiente de ser compreendida por qualquer eleitor, seja ou não seu simpatizante. E como se pode aderir a quem não se compreende?

Acho que a Justiça Eleitoral está errada em negar o registro do partido de Marina (enquanto as fraudes dos outros vão ficando pelo caminho); não voto em Marina, pelo menos a princípio; mas considero que o movimento à que ela se põe à frente existe de fato, socialmente falando, e por isso deve ter sua expressão partidária reconhecida (assinaturas à parte, o que é quase outra história e também diz muito sobre a candidata e seu séquito prematuro). Mas lamento que a ex-senadora do PT tenha enveredado por um caminho tão sinuosamente individualista em termos políticos que beira a autoproclamação absoluta, sem o lastro de um movimento organizado como ocorreu com o partido pela qual ela se notabilizou. Alfredo Sirkis que o diga (leiam os portais). Agora triste, decepcionante mesmo, foi ver uma figura como Domingos Dutra levado a trocar o PT pelo partido de Paulinho da Força em meio às aluviões desta confusão toda. Também vi hoje que o pedetista histórico Miro Teixeira - com quem não simpatizo nem antipatizo - resolveu entrar para o Pros (ele que é sempre tão contra), também ele à deriva depois da decisão da justiça eleitoral sobre a Rede - agora, sim, com maiúscula mas sem registro. 


Acho que Marina tem grande responsabilidade neste vespeiro de abelhas tontas a que assistimos. E prorrogar até o último minuto o seu anúncio não ajuda em nada a melhorar o estado das coisas. Não há nada de errado em que o que é alternativo seja também algo razoável - é da vida, essa evidência que dividimos todos e da qual a boa política é também uma extensão. Dito isso, ou tudo isso, só me resta repetir esse chavão batido que hoje uma jornalista anônima transformou de chofre numa reação tão autêntica quanto original diante da massadas de Marina Silva: fala sério, candidata!

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