domingo, 13 de janeiro de 2013

NO BALANÇO DO POTE


Forró bom é que nem o da água dos sertões - do Pote. A casa de música regional de Pium, litoral sul de Natal, está fazendo nove anos neste 2013, e só agora Rejane conseguiu realizar um projeto que tem quase dez anos - justamente o de me levar lá. Fomos ontem à noite, guiados pelo Google Map numa estrada sem sinalização alguma: mineiramente escondido nos grotões altamente urbanizados da praia de Parnamirim, encontramos este simulacro de vila matuta em forma de quadrado fechado, com vendas de bebidas e acepipes nas beiradas, toldos com mesas de plástico pelo centro e um dancing tipo cassino na área nobre, abaixo de um palco nada espetaculoso mas de muito bom tamanho. O Forró do Pote tem as medidas certas, nem tão exagerado nem tão estreito, um público visivelmente cativo e nenhuma fila incômoda. Milagre nestes tempos de massificação geral e multidões em busca de diversão eletrocutada, tudo lá nos soou tranquilo, caseiro, arejado e espaçoso. Muito bom o Forró do Pote.

Mas, veja mesmo: tinha horas em que parecia que a gente estava em Brasília Citi, num soiré do Clube da Previ, reduto dos iniciados nas coisas da Velha Guarda que encontram uma música suave e um dancing tão cassino quanto em beiradas outras, as das quadras 700-900 da Asa Sul. O nome já entrega - abreviação de Clube dos Previdenciário, palavra-instituição cuja breve pronúncia já deixa transparecer o avançado da idade - o espírito do lugar. Lá no dancing candango temos, às noites de sexta-feira, casais descansados de filhos crescidos e netos buliçosos, músicos de camisas estampadas, música nunca posteriores à década de 80, e o atrativo extra de várias "individuais" exibindo-se na pista sem medo de ser ridículas - e não são, que alguma espécie de elegância noturna anima suas almas dançantes. Pois, uma vez no Forró do Pote, parecia que era no Clube da Previ que a gente estava: os mesmos casais experientes, cabeleiras grisalhas de rostinho colado com madeixas habituadas aos rituais da pintura, um ar doméstico, e várias "individuais" sobraçando braços, pernas e meneios de quadris entre os quatro cantos da murada. Mocreário de responsa, que esse também é um elemento obrigatório deste tipo de ambiente. A diferença era só o repertório: mas alguma coisa me diz que mesmo no Clube da Previ a banda da noite sempre arranja um jeito de encaixar uma sessão rítmica de forró, do tipo clássico, o que aproxima ainda mais os dois lugares.

Danceteria brejeira, com uma mestre de cerimônias de fala calorosa, o lugar recebeu ontem a presença do astro regional Geraldinho Lins, de quem temos um CD sumpimpa adquiro nas gôndolas oportunistas da incansáveis Lojas Americanas. Outros forrozeiros locais abriram a noite, frequentada por tipos tão caracteríticos que não havia como não designá-los por um apelido de uma noite que seja. Havia, então, bem perto da nossa mesa, um Joaquim Barbosa circunspecto acompanhado por uma ex-sílfide dos anos JK, hoje redimensionada pelas plásticas da idade. Casal calmo, de poucas danças, esparsas conversas, platonicamente admirando o show de forró. Animado era o clone de Lewandowski mais à frente: um velhinho que não se entregava fácil e dançava o tempo todo. Com um bela e espadaúda morena, Lewan estava nos cascos ontem à noite: dançou até no intervalo entre os shows, sem deixar de dispensar nem mesmo o play-back. Ôxe, e play-back né música não, menino? Data-vênia, forrozeiro!

O esquema de consumo é que nem em quermesse de São João em Brasília: você comprar as fichas e depois troca pela bebida ou comida que deseja adquirir. E o repertório? Onde é que eu iria imaginar que um clone metropolitano de forró de pé de serra iria tocar para o público dançar novos clássicos da música nordestina como "Banquete dos Signos", "Abri a Porta" (copiando milimetricamente o arranjo do disco original de Dominguinhos, um brinde extra à minha memória) ou - o hit inesperado na noite, que fez todo mundo levantar e sair em caminhadinha de passo de quadrilha para a pista - "Frevo Mulher". Ouvindo esta última e apreciando a animação geral que ela provocou, tirei minhas previ-conclusões: aquele pessoal todo tinha que ter 13 anos em 1979, quando o "Frevo Mulher" que Zé fez para a então mulher Amelinha gravar estourou no último carnaval da década da nossa tenra infância. Vida longa ao Forró do Pote: e dia 2 de março tem Flávio José - se a gente estivesse aqui, ia, se ia, e como ia.

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