A maioria das pessoas envelhece mal, bem mal.
Esse seria só mais um motivo pra eu insistir em seguir
de bem com minha Elba Ramalho antitudo, marginália, passa-fome no Sul
Maravilha, vestidinho de renda deixando ver tudo, cabelão crespo que cobria sem
deixar um espacinho que fosse a gigante capa dupla do LP Capim do Vale.
Torço o olhar pras declarações cuspidas pela Elba
pos-lip, pós-sucesso, pós-fracasso, pós-tudo o que não presta e fico com a Elba
que cantava Luis Ramalho, bradando em linda voz gasguita que “o lugar também
clareia a lama”. Com a Elba luxuosamente vestida em trapos que varriam a poeira
do sertão nas cenas da Morte e Vida Severina refeita na tela da Vênus
Platinada.
Com a Elba que infelizmente não vi em pessoa no teatro
se rasgando com Marieta na montagem da Ópera do Malandro, mas que ouvi até escavar
sulcos no vinil da trilha sonora gravada.
Com a Elba de quem se dizia que escandalizava de Brejo
do Cruz a Caicó, a Elba-açude de mulher que fez transbordar para todo o país as
águas do Bodocongó. A Elba cujas pernas sustentavam o show business nordestino-brazuca
levando aquela alegria composta pelo então anônimo Lenine – outro que já foi
melhor – pelos palcos-caminhões da suburbanidade sertaneja bye bye made in Brasil
com que nem o cinema de Cacá poderia sonhar.
Fico com a Elba lírica, capaz de tirar do chão não só
os pés mas a alma desprevenida do ouvinte daquele radinho pré-FM apenas
cantando sete cantigas pra voar – de autoria, por sinal, de outro que
envelheceu mal neste catálogo de gente que já prestou, e como prestou, e como é
triste que tenha prestado tanto e tanto não preste mais.
Tão triste que só a música pretérita mesmo pode fazer
esquecer, apagar, deixar pra lá. Fico com aquela Elba e tudo que poderia querer
é que ela tivesse ficado com a gente, na banda insanamente sã de cá. Não deu,
chau, amor. Já vou me embora, não chora, a hora é de deixar.